quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Edifício Martinelli

Este edifício já foi o maior da América Latina, serviu para alojar baterias anti-aéreas na revolução de 32 e mesmo sendo sufocado pelos prédios do Banespa e do Banco do Brasil, é o simbolo da urbanização em São Paulo. Vamos conhecer melhor a história desse prédio tão importante na história de São Paulo.

Primeiro Arranha-Céu da América LatinaTudo começou em 1889. Chega no porto do Rio mais um navio com milhares de imigrantes italianos, mas, entre eles, um em especial: Giuseppe Martinelli. Com grande ambição, veio a se tornar um grande embargador do porto de Santos, mas isso definitivamente não era o suficiente para Martinelli, ele queria construir um patrimônio que seria para sempre lembrado e que abalasse a então pacata cidade de São Paulo, e pode-se dizer que ele conseguiu.

O ano era 1924. Começa a construção de um prédio, cujo projeto era ter 13 andares, o que já era um absurdo para a época onde raramente se via prédios com mais de 5 andares pelas ruas. Com muita polêmica, foi seguindo a construção no terreno mais nobre da época, entre as ruas São Bento, São João e Libero Badaró, e com caríssimo cimento exportado da Suécia e Noruega pela própria casa importadora de Martinelli. A obra já prometia ser uma revolução no mercado imobiliário de São Paulo.

Nas obras, trabalhavam mais de 600 operários, 90 artesãos (entre eles italianos e espanhóis). Para cuidar do esmerado acabamento e da nobre fachada, foram chamados os irmãos Lacombe, que mais tarde fariam a entrada do túnel 9 de Julho.Quanto mais o prédio crescia, mais o encomendador acresentava andares, às vezes a pedido da própria população, e de 12 andares passou a 14, depois a 18 e em 1928 chegou a 20. Nessa época, o próprio Martinelli assumia o projeto arquitetônico, e não contente em fiscalizar diariamente o prédio, começou a botar a mão na massa, assumindo sua antiga profissão de pedreiro que exercia em sua juventude.

Quando o prédio atingiu finalmente 24 andares, foi embargado pela prefeitura e liberado só depois de uma vistoria completa feita por um comitê formado para averiguar a segurança do edifício. Liberaram a construção de apenas mais um andar, mas Martinelli, genioso como um bom italiano, fez no terraço do prédio a casa do comendador acrescentando em 5 andares e formando então um edifício de 30 andares. Se mudou para o teto, provando que era bem seguro.


Uma vez criado, Martinelli começou a vender seus apartamentos para as mais diversas atividades. Já foi sede de diversos partidos políticos, jornais e clubes de futebol como a Portuguesa e o Palestra Itália (atual S.E. Palmeiras) e na revolução de 1932, o terraço foi utilizado para instalação de baterias anti-aéreas contra os vermelhinhos que ameaçavam bombardear São Paulo a qualquer instante.

Porém, nem tudo foi um mar de rosas para o edifício e a história estava começando a mudar para pior. Em 1934 Giuseppe Martinelli passou por dificuldades financeiras e teve de vender alguns andares para uma financiadora do governo italiano, ficando assim, parte do prédio ao poder italiano, o que para um futuro presidente chamado Getúlio Vargas não seria nada agradável.

Com a entrada do Brasil na segunda guerra em agosto de 1942, Getúlio fez uma série de cercos contra os países inimigos e quem penaram foram os imigrantes. Assim sendo, o governo se apropriou do prédio, mudando até o seu nome para Edifício América.

Depois da Segunda Guerra, o Brasil passou por um enorme progresso que refletiu no setor imobiliário, resultando em um enorme processo de verticalização e urbanização, e o edifício se viu sufocado pelo próprio progresso que desencadeou ao ser vencido em altura pelo atual Banespão e escondido pela enorme massa de concreto do prédio do Banco do Brasil nos anos 50.

Na década de 60 e 70, o prédio sofre um enorme abandono, marcando um início de uma grande marginalização no centro velho. O prédio que tinha o aluguel mais barato do centro serviu de cortiço para inúmeras famílias pobres, e acabou se tornando um centro de prostituição e venda de drogas, sendo considerado apenas uma favela vertical.

A coisa era realmente feia, qualquer pessoa com seus 40, 50 anos pode se lembrar do cabaré localizado nos subsolos do prédio, lembrando ainda do terrível caso do garoto Davilson, violentado, estrangulado e jogado no poço do elevador. O assassino nunca foi encontrado. Funcionava ali, no 17º andar, uma igreja evangélica afim de atrair os infelizes e desesperançados moradores do edifício. Por casos como esses e outros crimes aterrorizantes, há quem diga que o prédio é mal-assombrado até hoje e que coisas estranhas ocorrem em seus longos corredores e nos andares inabitados do edifício.

O prédio, cada vez mais desvalorizado, não via outra saída à sua frente que não fosse a demolição, e isso provavelmente teria
acontecido se não fosse a intervenção de um prefeito, Olavo Setúbal, que com a ajuda do exército desapropriou o prédio e começou uma série de reformas. Os setores hidráulico e elétrico foram totalmente reformados, a faxada recebeu um jateamento de areia e foi implantado um moderno sistema de prevenção de incêndio, transformando o prédio de novo em um dos mais seguros e modernos de São Paulo.

Atualmente o prédio abriga as Secretarias Municipais da Habitação e Planejamento, as empresas Emurb e Cohab-SP, a sede do Sindicato dos Bancários de SP e diversos estabelecimentos comerciais no prédio. Através do site oficial, pode-se agendar visitas e conhecer de perto a história desse prédio que viu São Paulo crescer de perto, e conhecer o terraço e sua bela vista panorâmica da cidade. Pode-se ver a Avenida São João do começo ao fim, o pico do Jaraguá e as antenas da Paulista, tudo do terraço do prédio, é uma visita que vale a pena fazer.

Para agendar a visita, é só entrar no link:
http://www.prediomartinelli.com.br/visitas.php

Rua Líbero Badaró, 504
Rua S. Bento, 405.
próximo a estação São Bento do metrô.

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